domingo, 4 de outubro de 2009

LIBRAS


Ser surdo é não ouvir o mundo, é sentir o mundo.
O indivíduo surdo é desprovido de audição, com uma enorme experiência visual, pois utiliza a visão em substituição total à audição, como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a cultura surda, representa pela língua de sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento científico e acadêmico.
Penso que não exista alguém que possa dizer que nunca conheceu um deficiente auditivo, mas uma grande parte da população, com certeza, nunca teve oportunidade de interagir com uma pessoa nessas condições.
Cresci brincando com um deficiente auditivo. Nosso entrosamento era tão perfeito que, erroneamente, julgava que ele somente "não sabia falar". Bem mais tarde descobri que ele não falava porque não ouvia. Mas isto não impediu que tivéssemos uma amizade verdadeira e pudéssemos fazer uso de toda e qualquer brincadeira.
Há alguns anos atrás, fiz um curso de Libras. Foram vários meses com uma aula semanal. Adorei! O professor era deficiente auditivo, mas tinha uma intérprete para nos auxiliar nas dificuldades. Houve interação com os alunos da escola especial de surdos, houve teatro. Senti, naqueles meses de curso, que cresci. Cresci como ser humano, pois estava me preparando para me comunicar com uma parte da população que, de um modo ou de outro, é discriminada. É uma pena, que por não ter oportunidade de colocar em prática o que aprendi, fui esquecendo.
Todo ano, quando trabalho os meios de comunicação com meus alunos, ensino Libras para eles. Cada um recebe uma folha com os sinais (semelhante ao demonstrado acima), é colocado um grande cartaz na parede. Cada aluno aprende seu nome e, naquele dia, se possível, não haverá sons na sala de aula.
Caracterizo o surdo como uma pessoa que não foi gratificada com o uso da audição, mas que tem uma sensibilidade extraordinária para sentir as coisas. Ele não ouve o mundo, sente-o. Ao contrário de muitas pessoas que não são surdas, mas estão surdas: surdas para a miséria alheia, surdas para o grito de alerta do planeta, surdas para Deus.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Suzan! Muito legal essa tua postagem, falas do surdo e sua cultura, além de comentares a tua aproximação com esse "mundo". Abração!!