"A especialização sem limites culminou numa fragmentação crescente
do horizonte epistemológico.
Chegamos a um ponto que o especialista se reduz àquele que,
à causa de saber cada vez mais
sobre cada vez menos, termina por saber
tudo sobre o nada.
Em nosso sistema escolar, ensina-se um saber fragmentado,
que constitui um fator de cegueira intelectual,
que decreta a morte da vida
e que revela uma razão irracional."
(Hilton Japiassu)
No inicio do século, Taylor e Ford revolucionaram o sistema de produção das indústrias automobilísticas, abrindo espaço para um método cada vez mais mecanizado, deixando a grande massa trabalhista atuar como robôs, pois deles era exigido somente a mão-de-obra, o exercício mental era exercido por uma minoria.
Que espécie de cidadão a escola estava formando, com uma visão restrita sobre o mercado de trabalho? Caracterizava-se como "taylorista", dando ênfase a um acúmulo de tarefas não significativas entre si, objetivando o aumento da eficiência ao nível operacional, ou "fordista", onde o conhecimento é entregue ao aluno, em vez desse ir buscá-lo?
Santomé, no texto "As Origens da Modalidade de Currículo Integrado", faz uma analogia entre a revolução industrial introduzida por Taylor e, posteriormente Ford, e a pedagogia de ensino proposta nas escolas. Conforme ele, o paradigma taylorista/fordista decorria de uma fragmentação do trabalho pedagógico escolar: o currículo que dividia o conhecimento em áreas e disciplinas, trabalhados de forma isolada, autônomas entre si e desvinculadas da prática social concreta, ficando por conta do discente reconstituir as relações entre elas.
O mercado globalizado marcou novas exigências de competividade, estabelecendo novas relações entre trabalho e cultura, urgindo um novo princípio educativo, um novo projeto pedagógico que formasse novos cidadãos que atendessem às novas demandas impostas pela globalização da economia.
A interdisciplinaridade surgiu num período marcado pelos movimentos estudantis que reivindacavam um ensino mais sintonizado com as grandes questões de ordem social, política e econômica.
Na teoria e nas Leis, interdisciplinaridade está bem exemplificada, mas na prática?
A interdisciplinaridade objetiva a superar a fragmentação do conhecimento, a falta de uma relação deste com a realidade do aluno. Ainda hoje, há quem confunda com relação teórica, onde várias disciplinas trabalhem sobre o mesmo tema.
Entendo como interdisciplinaridade uma flexibilização curricular, onde as várias áreas do conhecimento se cruzem num ponto comum: não mais produzir mão-de-obra com restritas competências, mas formar trabalhadores com componentes flexíveis, que se adaptem com rapidez e eficiência a situações novas e saibam criar respostas para situações imprevistas.
É claro que o avanço da educação dependerá de uma abordagem interdisciplinar. Isto propõe um grande desafio para a comunidade escolar, principlamente ma forma como os profissionais de educação são treinados: cumprir conteúdos, custe o que custar.
Muitas vezes fui pressionada por pais de aluno por "puxar demais" de seus filhos:"Ele é muito pequeno para ter de pensar tanto", "no meu tempo não tinha estas coisas na escola". Hoje sei que não estava errada! Minhas atividades que tanto exigiam e exigem um aluno pensante e crítico, certamente são sementes que gerarão bons frutos.
Fontes de inspiração:
"As origens da modalidade de currículo integrado", texto de Santomé.
Fragmento de Hilton Japiassu sobre a compormentalização dos saberes e da importância do trabalho integrado.
Um comentário:
Oi Suzan, muito legal essa tua reflexão. Trazes a tua visão de interdisciplinaridade e tangencias a forma como trabalhas com teus alunos nessa perspectiva. Poderias explorar um exemplo mais detalhado, que tal? E como aluna do PEAD, percebes ou não percebes a interdisciplinaridade? Em que momentos? Abração, Sibicca
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