Atualmente, a agressividade e a indisciplina escolar têm merecido destaque na pauta das reuniões pedagógicas em muitas instituições de ensino, gerando opiniões diversificadas sobre suas causas e consequências e promovendo debates, muitas vezes sem nenhuma conclusão, sobre os mesmos. Discorrer e refletir sobre o tema não é um assunto novo, porém, muito recentemente, recebeu uma nova denominação: bullying.
A realidade escolar continuamente nos remete a reflexões, principalmente com relação ao nosso exercício diário como professores. Entre os temas que exigem esta reflexão está a prática do bullying, um termo já conhecido pela sociedade, mas, mesmo assim, ainda não compreendido em seus vários aspectos, sendo confundido, erroneamente, com atos indisciplinares e atitudes agressivas, que são, também, preocupantes e merecem a atenção da comunidade escolar.
Para a palavra bullying não existe tradução para a língua portuguesa. Este termo compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotada por um ou mais contra outro ou outros, causando dor e angústia, e executadas dento de relações desiguais de poder, que tornam possível a intimidação da vítima. A palavra é usada para descrever tipos diferentes de comportamentos que objetivam ferir ou controlar outra pessoa: colocar apelidos maldosos, dizer palavrões, ameaçar fisicamente, difamar, zoar, humilhar, fazer sofrer, levando a vítima ao isolamento, à queda do rendimento escolar, a alterações emocionais, à depressão e ao suicídio, como em casos ocorridos no mundo e divulgados pelos meios de comunicação.
Considerando que a escola é o espaço onde múltiplas personalidades convivem diariamente, é quase normal o conflito de opiniões e interesses, mas a intensidade com que a violência está conquistando o espaço escolar e o número cada vez maior de envolvidos é preocupante e tem merecido a atenção de pais, professores e sociedade do mundo todo, gerando muitas opiniões sobre as causas e sensibilizando toda a comunidade pelas consequências que tem promovido.
É fundamental que a escola compreenda este fenômeno e saiba identificá-lo, nas vítimas e nos agressores, porque ambos necessitam de atenção, de amparo, de acompanhamento psicológico.
A atual dilaceração da educação deve propositar urgentes providências, unindo todas as esferas a ela ligadas: escola, família, comunidade. O desfalque dos princípios éticos e morais, na sociedade, está assumindo proporções assustadoras.
Os pais cobram da escola. A escola responsabiliza os pais. A sociedade exige que a escola resgate os valores que ela mesma desconhece.
O que fazer? Deixar que a maré de violência e descaso pelo próximo arrebente nossa juventude contra os rochedos da indiferença, do dispudor, do desrespeito pelo direito à vida.
A escola, como ambiente de socialização e de educação, deve se questionar sobre o que acontecerá com o futuro se abandonarmos os princípios morais.
Vamos à luta, colegas de profissão!
Ainda há esperança, ainda dá tempo de reverter a situação. Se a família falha, se a sociedade finge ignorar, cabe à escola arregaçar as mangas e iniciar um trabalho de conscientização, com nossos alunos.Não duvidando de nossa capacidade, mas contando com ela.
Sejamos professores fascinantes!
Conforme Gabriel Chalita, "quando o professor considera apenas o lado ruim dessa situação, corre o risco de se deixar envolver pelas atitudes negativas, ignorando as possibilidades de transformação. É importante apreciar a perspectiva de oportunidade e contar com a certeza de que:
* ninguém gosta de viver a violência, nem como professor, nem como aluno, nem como vítima, nem como agressor, tampouco como testemunha de atos desumanos. Casa qual escolhe agir de acordo com as habilidades que desenvolveu e modelos que conheceu;
* todos querem ser felizes, protegidos e acolhidos, ter sua importância e talento reconhecidos e valorizados. Uns conquistam pela força, outros pelo carinho, outros desistem. Essa necessidade é tão imprescindível que sua ausência pode levar uma pessoa ao suicídio;
* alguns acabam ficando cruéis, alguns se protegem e outros se defendem da crueldade. Mas há, ainda, os que não sabem nem se proteger, nem de se defender: eles se escondem, se isolam e são esquecidos pelos demais;
* poucos se sensibilizam a ponto de buscar envolver poucos para formar muitos. São poucos porque talvez muitos não acreditem que sejam capazes de transformar algo. Os poucos que realmente acreditam e se mobilizam serão muitos até que sejam todos."
"Todo esse processo de sofrimento tem de ser interrompido.
O compromisso de educar na escola, na família
ou em qualquer ambiente de convivência,
além de ético pela natureza da ação,
precisa ser afetuoso para colher agressores, vítimas e espectadores,
caso contrário será reprodutor da intolerância.
Livrar-se da agressão, e não do agressor,
deve ser o propósito de todos".
GABRIEL CHALITA
Fonte: CHALITA, Gabriel. PEDAGOGIA DA AMIZADE - Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo. Gente. 2008