domingo, 1 de novembro de 2009

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO OU PEDAGOGIA DO BOM SENSO?


"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda". (Paulo Freire)


Lendo o texto de Frei Betto, revi o método pelo qual fui alfabetizada. Não pretendo, de forma alguma, rechaçar a metodologia utilizada pela alfabetizadora, mesmo porque fui muito bem alfabetizada e, ainda hoje, lembro o nome da professora: Dalva.
Mas, assim como "Ivo viu a uva", eu vi a "Élida e o Olavo" que viam o ovo, a Eva e a uva. Foi muito tempo depois que passei a entender qua a uva é obra do Criador e não da criatura. Fui alfabetizada, mas não tinha consciência da praticidade daquele amontoado de apalavras que aprendi a decifrar.
Não havia diálogo, não havia nem mesmo uma conversinha à toa entre os colegas. Tudo era mecanizado, bem aceito e jamais discutido. Devíamos então fazer composição. Porém ninguém nos explicava que fazer uma composição não era somente fazer uma produção textual. Consequentemente, fazer uma composição era sinônimo de "lá vem chatice".
Passado tantos anos e após todas as leituras sugeridas pelo Pead, paro para pensar que aquela adorável professora era apenas um mero instrumento da "Pedagogia do Oprimido". Nesse processo, ela depositava o conteúdo em nossa cabeça, e nós o recebíamos como forma de armazenamento, não havia criatividade nem tampouco transformação do saber que trazíamos para a escola em nossa "bagagem cultural". A professora era a única detentora do saber, criando em nós a condição de sujeitos passivos que não participavam do processo educativos.
Agradeço a Deus por ter-me oportunizado nascer de pais com a "mira" voltada para o futuro. Meus progenitores sempre me incentivaram a ler e, em minha casa, nunca faltou material de leitura.
Paulo Freire é autor de uma vasta obra que ultrapassou as fronteiras do país e espalhou-se por muitas outras nações.
Segundo Paulo Freire, a educação é uma prática política tanto quanto qualquer prática política é pedagógica. Não há educação neutra. Toda educação é um ato político. Assim sendo, os educadores precisam construir conhecimentos com os educandos, tendo como meta um projeto político de sociedade. Os educadores devem ser, portanto, profissionais da pedagogia da política, pedagogia da esperança, pedagogia do bom senso.
Paulo Freire dedicou a obra Pedagogia do Oprimido aos "esfarrapados do mundo", sujeitos das camadas menos favorecidas que acabam por aceitar o que lhes é imposto, sem uma conscientização do seu real valor na sociedade, sem motivação ou coragem para lutar pela transformação da sua realidade. Deixou bem claro que somente um método que privilegie a ação e o diálogo é capaz de ser coerente com os princípios da verdadeira educação.
O diálogo é o grande incentivador da educação mais humana a até revolucionária. O educador, antes dono da palavra, passa a ouvinte, pois não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.
"A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformem o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo modificado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles um novo pronunciar."
O diálogo oportuniza uma intercomunicação, o que gera a crítica e a problematização, pois os sujeitos do diálogo podem questionar, replicar, avaliar, aprender e ensinar.
Paulo Freire coloca a palavra como mais que um meio para que o diálogo se efetue. A palavra deve ser constituida de ação e reflexão. Sem a ação, perde-se a reflexão e a palavra transforma-se em verbalismo. Por outro lado, a ação sem reflexão transforma-se em ativismo.
Infelizmente, a liberdade educativa está longe de ser uma realidade universal.
Quem somos?
Educadores bancários que definem o conteúdo antes mesmo do primeiro contato com os educandos?
Ou politizadores dos cidadãos, dando-lhes armas para lutar contra as desigualdades sociais? Um educador libertador cujo conteúdo é a devolução, sistematizada, daquilo que o educando lhe entregou de forma desestruturada? Conteúdo esse que tinha como berço a cultura do educando e a consciência que ele tinha do mesmo.
"O homem é aquilo que sabe".
(Francis Bacon)
Fonte:
Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Suzan, bela postagem! Situas o texto, trazendo fragmentos que te chamaram atenção e fazes uma interlocução com a tua trajetória pessoal. Abração!!