quinta-feira, 12 de novembro de 2009

EDUCAÇÃO DOS SURDOS






Antes de pensarmos como começou a educação das pessoas desprovidas de audição, devemos pensar quando, ao longo da história do homem como habitante terreno, identificou-se a falta de audição do indivíduo. É fato que antes de se perceber que o homem não ouvia, ele foi "tachado" de louco. Hoje em dia, infelizmente, ainda o é.
Há pouco mais de um século, a mulher conquistou seu direito de cidadã. Antes disso, sua condição feminina destinava-se à procriação e afazeres domésticos (motivo do jargão "isto é coisa de mulher"). E a mulher surda?
No filme O Menino Selvagem, Victor fora atacado pelos alunos da escola de surdos. Meninos. Meninas surdas não tinham direito à escola? Ou havia escolas só para elas?
A educação de surdos começou, aproximadamente, a quinhentos anos, sendo que no início havia pouca compreensão sobre a surdez. A surdez e consequente mudez eram confundidas com falta de inteligência e baixa capacidade de aprendizagem.
Vejamos alguns educadores de surdos, dignos de serem comentados:
Charles-Michel de I'Épée destinava sua vida às obras de caridade e, numa de suas visitas aos pobres, encontrou duas irmãs surdas que se comunicavam através de gestos. À partir daí, decidiu dedicar-se aos surdos e fundou um abrigo que era sustentado por ele mesmo. O seu abrigo tornou-se a primeira escola para surdos.
Frei Ponce de Leon, monge beneditino que recebeu os créditos como primeiro professor de surdos.
Samuel Heinicke foi o primeiro educador a desenvolver uma instrução sistemática para os surdos na Alemanha.
Em meados do século XVI, Girolano Cardano propôs um conjunto de princípios que prometia uma ajuda educacional para os surdos, afirmando que estes podiam ser pensantes, compreenderem símbolos gráficos ou combinações de símbolos associados a objetos ou figuras que os representassem. Assim, no início de 1555, surgiu a educação oral para crianças surdas. Algumas crianças surdas de famílias nobres aprenderam a falar e a ler para poderem ser reconhecidas como pessoas nos termos da lei e herdar títulos e propriedades de suas famílias.
Jean Massieu, francês surdo e pioneiro na educação de surdos. Foi professor de Laurent Clerc.
Laurent Clerc foi chamado "O apóstolo dos surdos na América". Com Thomas Hopkins Gallaudet, fundou a primeira escola para surdos na América do Norte.
O Congresso Internacional de Milão, em 1880, foi um movimento obscuro na história da educação dos surdos. O comitê do congresso era unicamente constituído de ouvintes que tomaram a decisão de excluir a língua gestual no ensino dos surdos, substituindo-a pelo oralismo que, em consequência disso, foi a técnica preferida na educação de surdos nos fins do século XIX e grande parte do século XX.
Como ouvinte, pouco ou nada sabia sobre os modelos educacionais de surdos. Através da leitura dos textos sugeridos pela interdisciplina Lingua Brasileira de Sinais, tive a oportunidade de conhecê-los:
ORALISMO: método de ensino para surdos, no qual se defende que a maneira mais eficaz de ensinar o surdo é através da língua oral, ou falada. Defende que a Língua de Sinais deve ser evitada, pois atrapalha o desenvolvimento da oralização.
COMUNICAÇÃO TOTAL: após o fracasso do oralismo, foi adotada a comunicação total,ou seja, o uso simultâneo de uma língua oral e de uma linguagem sinalizada.
PEDAGOGIA SURDA: o surdo é reconhecido como um indivíduo inteligente, capaz de aprender e produzir, e não como um deficiente.
BILINGUISMO: tem como pressuposto básico que o surdo deve ser bilingue, ou seja, deve adquirir a linguagem de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos, e a língua oficial da pátria mãe.
Pesquisei e li muito sobre este tema "Educação de Surdos" e cheguei a uma conclusão de que existia uma polêmica (talvez ainda haja) na educação de surdos. Havia os que defendiam o oralismo, havia também os que defendiam a língua de sinais e, ainda, uma corrente de defensores da Comunicação Total. Entendi que ao longo da história da educação de surdos, esses três métodos coexistiram sem que nenhum deles conseguisse prevalecer.
Como escreveu Harlan Lane, no texto "A política no ensino dos surdos", "os direitos ganham-se lutando", a educação de surdos ganhou mais espaço, o indivíduo não ouvinte adquiriu o que lhe era de direito: educação, reconhecimento como cidadão capaz. Mas não basta!
Somente no momento que todos levarem em consideração as restrições impostas aos indivíduos surdos é que os mesmos poderão levantar a bandeira da vitória. Não basta uma escola que ensine o deficiente auditivo a ler, escrever e comunicar com linguagem de sinais, onde esta linguagem só é compreendida por uma minoria. Quando este meio de comunicação for uma linguagem universal, obrigatória em todas as escolas e desde os primeiros anos de escolarização é que poderemos dizer "SOMOS TODOS UM SÓ!"
"O olhar e a movimentação dos lábios são mais eloquentes
e muitas vezes mais sinceros do que uma frase".
(Marina Colasanti)
Fontes:
LANE, Harlan - A Máscara da Benevolência, texto A política de ensino de surdos, página l70.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Suzan!! Nessa postagem trazes muitas referências para pensarmos sobre a gênese da educação de surdos. Abração!!