quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

PIPOCA OU PIRUÁ?





A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens. O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice, uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos - Dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, um filho, um amigo ou o emprego. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, doenças e sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio, uma maneira de apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pipoca dentro da panela, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece completamente diferente, como nunca havia sonhado.
Piruá é o milho que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você, o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?
Rubem Alves
Bem, posso não ser a mais linda e branquinha mas, com certeza, eu sou uma pipoca estourada.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

FÁBULAS



O leão e o camundongo, a lebre e a tartaruga, a raposa e a cegonha, a cigarra e a formiga são algumas das duplas que protagonizam fábulas muito conhecidas. Há também o homem que matou a galinha dos ovos de ouro, fábula de La Fontaine da qual se extrai a lição: "Quem tudo quer tudo perde."
Fábula é uma narrativa aleatória em prosa ou verso, cujos personagens são geralmente animais, que conclui com uma lição moral. Sua peculiaridade reside fundalmentalmente na apresentação direta das virtudes e defeitos do caráter humano, ilustrados pelo comportamento antropomórfico dos animais. O espírito é realista e irônico e a temática é variada: a vitória da bondade sobre a astúcia e da inteligência sobre a força, a derrota dos presunçosos, sabichões e orgulhosos, etc. A fábula comporta duas partes: a narrativa e a moralidade. A primeira trabalha as imagens, que constituem a forma sensível, o corpo dinâmico e figurativo da ação. A outra opera com conceitos ou noções gerais, que pretendem ser a verdade "falando" aos homens.
Cabe salientar que o elemento dominante, para o gosto moderno, costuma ser a narrativa. A moralidade ou significação alegórica, ainda que anime o todo, jaz de preferência nas entrelinhas, de maneira velada. Os antigos tinham ponto de vista diferente. Para eles, a parte filosófica era essencial. Para atingirem de modo mais direto o alvo moral, sacrificavam a ação, a vivacidade das imagens e do drama. Assim, a evolução da fábula pode ser cifrada na inversão do papel desses dois elementos: quanto mais se avança na história, mais se vê descrever o tom setencioso, , em proveito da ação. A presença da moral, no entanto, nunca desapareceu de todo da fábula. Explicitada no começo ou no fim, ou implícita no corpo da narrativa, é a moralidade que diferencia a fábula das formas narrativas próximas, como o mito, a lenda e o canto popular. Situada por alguns entre o poema e o provérbio, a fábula estaria a meio caminho na viagem do concreto para o abstrato.
A afinidade com o provérbio encontra-se no nível mediano - lugares-comuns proverbiais - a que geralmente se reduz a lição extraída da narrativa. Sob esse aspecto, a fábula também se distingue da parábola, que procura maior elevação no plano ético, além de lidar com situações humanas mais reais.
Os mais famosos fabulistas~são: Esopo, Fedro e Jean de La Fontaine.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O CONHECIMENTO DA ARTE

Li ou escutei (não lembro ao certo) de alguém um comentário sobre o "conhecer" a arte. Como é difícil para o ser humano analisar algo que desconheça, e mais difícil ainda é admitir sua ignorância no assunto.
Todos nascemos, eu imagino que sej assim, com o potencial de reagir à arte. Infelizmente, nem todos temos a boa sorte de ver ativado esse nosso potencial.
Algumas pessoas, por temerem a própria ignorância, decerto não conseguem encarar sem medo uma obra de arte.
Olhar, realmente olhar, continua a ser uma responsabilidade pessoal, e a reação de mais ninguém servirá de substituto. Mas é do mundo exterior que o conhecimento precisa vir a nós, pela leitura, audição e contemplação. Se descobrirmos que sabemos, então talvez possamos reunir coragem para olhar, admirar, degustar uma obra de arte.
O amor pela arte e o conhecimento da mesma andam de mãos dadas.

domingo, 2 de dezembro de 2007

A PSICOLOGIA DO JOGO

Qual a psicologia do jogo?
Devemos ou não usar desta "ferramenta" na sala de aula?
Em primeiro lugar, ou seja, antes de sugerir um jogo, é preciso saber qual o objetivo a ser alcançado com ele. Um simples lazer? Um quebra gelo? Integração? Sintonia de idéias e conhecimentos? Estabelecer confiança? Demonstrar conceitos?... Para que vou usar este jogo?
O jogo traz em si um espaço para aprendizagem, podento ter seu efeito potencializado, proporcionando aos "jogadores" algo mais além do que um simples passatempo ou uma tarefa a cumprir.
Num processo de aprendizagem, o ideal é vivenciar para depois compreender, e é isso que, na maioria das vezes, o jogo oportuniza.
Este processo de transformar a experiência em ação, normalmente não ocorre sozinho, as pessoas necessitam de um tempo de precessamento, para tirar conclusões e fazer associações com sua vida. Neste momento, o focalizador, ou seja, o jogo em si, tem papel fundamental, pois é através de sua mediação que o participante pode ir mais fundo em sua reflexão.
Como disse Paulo Freire: - "O homem não aprende apenas com sua inteligência, mas com seu corpo e suas vísceras, sua sensibilidade e imaginação". O jogo também é um agente de aprendizagem. Portanto, que seja bem-vindo o jogo!

Desenvolvimento gráfico e escultório.


A interdisciplina "Artes VIsuais" me abriu novos horizontes no conhecimento de artes e na leitura das atividades artísticas realizadas por meus alunos.
Até então eu desconhecia os estágios (ou etapas) do desenvolvimento gráfico e escultório da criança.
Foi um grande aprendizado e, à partir de então, observo as obras artísticas de meus pupilos com outros olhos.
Mas para que tudo o que assimilei não caia no esquecimento, faço aqui o meu registro:
DESENVOLVIMENTO GRÁFICO
"Grafismo é todo e qualquer registro feito sobre uma superfície".
PRIMEIRO ESTÁGIO: Rabiscação ou garatuja.
SEGUNDO ESTÁGIO: Descoberta da relação existente entre o desenho e a realidade.
TERCEIRO ESTÁGIO: A criança passa a exprimir-se segundo o que ela vê.
QUARTO ESTÁGIO: Surgem as preocupações com a identidade e o mundo de forma aprofundada. O olhar passa a ser mais crítico e indagador.
DESENVOLVIMENTO ESCULTÓRIO
ETAPA I - Explorações de materiais (chapadas criculares).
ETAPA II - Movimentos mais complexos (esferas).
ETAPA III - Hastes (só comprimento e direção da forma são importantes).
ETAPA IV - Acrescentada a terceira dimensão.
ETAPA V - A criança usa, em suas construções, os volumes e as hastes.
ETAPA VI - Utilização de placas (formas bidimensionais) agregadas para representar os planos de construção do objeto.
ETAPA VII - Placas se tornam tridimensionais.
ETAPA VIII - A criança procura diferenciar o tamanho das formas, suas proporções, orientação espacial, etc...
Não posso deixar de lado duas citações que merecem um pouco de reflexão:
"Existe uma parcela de desenvolvimento gráfico infantil que é patrimônio universal da inteligência humana, e outra parcela que corresponde às circunstâncias geográficas, temporais e culturais do curso humano". (Edith Derdyk).
"... como educadores, acreditamos no poder de criatividade das pessoas, na individualidade de cada ser humano, acreditamos na necessidade vital que a criança tem de se expressar; porque somos contra a acomodação e desejamos a transformação". (Vianna - 1994).
Os estudantes de ensino fundamental (principalmente os da rede pública) são carentes de uma preparação artística prévia. O professor deve incentivar e oportunizar o aluno à transformar seus sentimentos em obras de arte, mas sem esquecer que o que importa apenas é que a obra esteja de acordo com aquilo que o aluno entende como obra de arte.
O maior obstáculo em aulas de educação artística reside na insegurança do professor e na sua ignorância sobre esta disciplina, mas o melhor dos ensinamentos acontece quando o professor trabalha com as sua próprias idéias e não com modelos rígidos nos quais não acredita ou desconhece.

A música não é só cantar e dançar




Dos 7 aos 9 anos, estudei acordeão. Notas musicais, clave de Sol, ritmo, compasso, bemol e sustenido: tudo isso fazia parte do meu universo naquela época. Mas, depois disso, transcorreram algumas décadas (o tem exato não posso contar, é segredo de estado!), e minha memória armazenou todos esses dados em uma gavetinha, bem num cantinho do meu cérebro. Já estava quase tudo esquecido, mas eis que surge a interdisciplina "Música Na Escola" e abre as gavetas, espalhando todo seu conteúdo. Lembrei! Recordei! Revivi, mentalmente, toda aqula magia de sons que partiam de um instrumento musical quase maior que a musicista.

Tudo que se aprende e apreende, não se perde jamais! Pode ficar depositado em um canto qualquer e, até mesmo, um pouco negligenciado. Mas, com um simples episódio, como num passe de mágica, tudo volta.

Ao preparar uma das atividades desta interdisciplina, procurei me atualizar neste quesito. Devemos estar preparados para questionamentos que, muitas vezes, nos deixam desnorteados.

Relembrei que os elementos fundamentais da música são: ritmo, melodia e harmonia. Que os parâmetros do som se dividem em: Intensidade (fraco ou forte), Altura (grave ou agudo), Timbre (qualidade que nos permite reconhecer a origem de um som), Duração (quantidade de tempo ao longo do qual um som, ou silêncio, é sustentado).

Refresquei a memória! Música tem tempo: compasso é a divisão da música em séries regulares (binário, ternário, ...).

Lembro, como se estivesse vendo e ouvindo agora mesmo, a professora Norma (este é o nome dela) falando: - "Perder o compasso é o mesmo que perder o rebolado. Se aprumem!"

Bons tempos aqueles!